domingo, 16 de dezembro de 2012

Rua da Praia



Essência divina

os sons de quenas peruanas, andinas

o charango tocando afinado

a rua molhada pela chuva

passa o povo  imperturbável

sem notar, cheio de pressa

mergulhados em seus mortais 

compromissos

pensam acordar

enquanto permanecem adormecidos



terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Revidavidavida




Vivência de espetáculo, a ribalta
Inflige a redundância das repetições
As imitações das personas
A tolerância aos beócios da platéia
E a compaixão budista como árdua sina
ao artista.
Na incompreensão do conteúdo
Ou na má compreensão do texto
Que a cada dia o brutaliza
E faz do principal perversa forma
Roteiro dessa peça bufa
Denominada vida.
Perde o senso e o dogma transluz
Como falsa gema
Podre fruto de frondosa árvore
Muito antiga.
Irrazoáveis são as humanas crenças
Risíveis são os temores ante a finitude
Fugazes são as obras
Ruinas de Ozimandias.
Mas da vida no teatro a cena
Clama o artista alto suas falas
Largos gestos de comédia e drama,
Bordões gastos, rotas flamulas
Pobre cenário de circo mambembe
Espetáculo findo desce o pano
Escapa da vida o sopro
Mamulengo sem o titereiro
Infantes deuses riem-se e divertem-se
Das peripécias dos pobres saltimbancos.


quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Pequena Gaza





Dorme meu pequeno
enrolado em panos
teu sagrado sono
sangre seco na face imberbe
que já não respira
Dorme meu pequeno
sonha teus lindos campos
que nunca conheceste
cessa teu choro agora
cessa a dor de teu corpo
rasgado pela bomba sem nome
olha inocente, estupefato
a própria vida que se esvai
alma sumida em sonhos
travessuras de criança
pipa esvoaça sobre o muro
olha a fria mira da sentinela
estupefato
admira as lindas cores
do objeto que agride
a pedra fria
voa a nave silenciosa
como ave de rapina
explode o débil corpo
silencia teu riso inocente
por cima do arame farpado
livre a pipa voa sem dono...  



Soldado de Israel mira em menino palestino


segunda-feira, 19 de novembro de 2012

MALÊ




MATA PRETO, MATA PARDO, MATA ÍNDIO
FORMA MILICIA, QUEIMA QUILOMBO
DESTRÓI A TABA, QUEIMA A MATA
MATA MENINO NEGRO NA PORTA DE CASA
EXPULSA POSSEIRO, FAZ EMBOSCADA
MATA NA RUA, MATA NA ESTRADA
FUZILA BANDIDO, QUEIMA SEU CORPO
TORTURA, PÕE NO PAU DE ARARA
CRESCE A RAIVA INCONTIDA
CORRENTE QUE UM DIA ARREBENTA
ONDA QUE UM DIA RETORNA
INCÊNDIO QUE UM DIA SE ESPALHA
MATA BRANCO, MATA
MATA BRANCO,MATA...


quarta-feira, 24 de outubro de 2012

SOMOS TODOS GUARANI KAIOWA







Cintilante tarde, onde te encontro

Como ave cativa, ferida aberta

No Sol que se esgota na falha do distante horizonte

Aprofunda tua escuridão

Negra fonte que não mais me amedronta

Sento taciturno pensando na turva candura da forma

Que se nega a virar letra viva ou letra morta

Estudo cativante que não alcança teu nome

Onde estará a conexão?

Verdade absoluta, absolutamente equivocada

Cansada, fatigada, sem nome

Rima doente de tantos versos roubados no Elísios

Junto aos heróis de pedra.

Onde estarão seus nomes ? – Clamo a Homero

Lápides e sepulcros desvelados  por cientistas, linguistas e tais

Ossos rompidos, cérebros trepanados, comidos

Crianças sem nome espetadas com suas mães

Em mastros sangrentos.

Cordas primitivas trançadas através de seus crânios

Esvoaçantes, estranhas flamulas balançando ao vento.

Somos conversores da cósmica energia primordial do Big Bang

Ladrões furtivos do fogo eterno dos deuses

Forjando nossas lutas na pequena bola de barro

Agora invadindo corpos e mentes com átomos de informação

Instantânea, pré-fabricada que penetra como forma

Do ser culturalmente desinformado, inaturado, subjugado, castrado

Vivendo sobre a morta laje de pedra

Sorri do passado inclemente o poeta:

Na antiga Roma não jogavam pedras nos artistas das letras?

Agora só lapidam aqueles que versejam verdades

Imaginem que broncos esses bardos

Não aproveitam o derradeiro banquete dos notáveis

Que cobrem, solitários, todo o planeta.

Recém-nascidos cozinham nos potes de barro



segunda-feira, 1 de outubro de 2012

PSICHÉ



ALMA LIBERTA
COMO PROMETEUS
AFIRMA TEU NOME
E O MESTRE ENSINA
TUA EXISTÊNCIA
COMO FORMA DISTINTA 
DO SER
EM TEU PALÁCIO/CASULO
HABITA
O SER ALADO
E O VERME ARRASTA
TUA FORMA PRIMITIVA
ENQUANTO VOA ÍCARO DE GLÓRIA
CONTRA O SENSO DOS DEUSES
FORMA QUE INVADE
METAMORFOSE
DE VERME
EM LINDA BORBOLETA

quinta-feira, 13 de setembro de 2012

A MENTE MENTE II



Firulas, falcatruas, melancolia
razão, intuição e epifanias,
sistemas, teoremas, maravilhas
sobrevivências, reminiscências e orgias
politica, poder e ideologias
religião, inquisição e teologia
sinistras formas de magia
mecânica quântica e holografia
física e cosmologia
A mente sempre mente
para o ser que se ilude perene
pois Ela é o Verdadeiro Mistério.




terça-feira, 14 de agosto de 2012

A MENTE MENTE


A mente sempre mente
para o ser na eterna busca do prazer sensorial
A mente sempre mente
para o ser na ilusão de querer
o que não pode alcançar
A mente sempre mente
para o ser indiferente da vontade
pois só ela sabe
o objetivo da vontade
A vida é da mente 
o ser sempre se ilude perene


sexta-feira, 27 de julho de 2012

AMOR ZEN

Quando chego em casa
me avistas alegre com teu olhar de flores
guarda a lembrança de nossos amores
no calor da alcova só afagos e carinhos
Jazz e vinho

Campo de Batalha







Corvos disputam as carniças
Onde antes heróis disputavam flâmulas
para as Valquírias
Silencio dos corpos insepultos
Grasnar das negras aves de luto




CLASSIFICADOS

Vende-se Casa de Sobrado
que necessita pequenas reformas
com amplos quartos vazios
dos filhos que já se foram
Depósito de ilusões perdidas
Cozinha de afazeres sórdidos
Sala de gritos suspensos no ar
Porta da rua aberta para nunca mais voltar



terça-feira, 26 de junho de 2012

Terra Cansada

Campo desnudo
a lavra se perde até o horizonte
o lavrador caminha 
ceifas e enxadas ao ombro
esconde o sol
o rosto tardio
o cansaço amargo
do homem
da lavra
da terra arada


segunda-feira, 5 de março de 2012

O Dragão Fêmea e a Lua Negra



Não fosse da noite testemunha
a Lua Negra 
Selene pálida quase sumida 
Artemísia mirava sua imagem de narciso
no lago da intensa paixão reflexa
Não fosse agora, como seria ontem
um sonido, uma buzina insuspeita
 ténue raio trespassava o lucivelo
que iluminava a mundana rua
Rosa Branca teria sido despercebida
de Artemísia ébria de espíritos



Nesse mesmo instante
do centro inefável da galáxia,
de onde habita Panku
raios cósmicos peraltas
vieram aqui tecer suas brincadeiras
de partículas infantes
sem formas, nem vícios
varando a tela sutil da noite
atravessando mentes e corpos
ligando, separando, recriando, desunindo
harmônicas e constantes
incendiando paixões e líbidos
colocando em movimento
imensas energias celestes
sem culpa



Rosa Branca e Artemísia voluntariosa
trocam olhares, tramam artimanhas
jogos de cena, palavras roucas
confissões que só os espíritos do vinho concedem
palavras que só a madrugada consente
No banho nu da Lua Negra
inflama tórrida união
se entregam como podem
enroscadas no troca, troca
sem dó ou pudor
sem nada que não seja o tocar
gozo, prazer e delicia



Flor se despetala
caçadora que espreita
fisga a presa e flui
liquido susurro de prazer
inesgotável ardente lascívia


Folia de partículas peraltas 
do centro inefável da galaxia
  levianas andarilhas de estrelas
êxtase e paixão 
de Rosa Branca e Artemísia...





quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Guerras e Notícias de Guerras


O Fantasma da Pulga - Willian Blake


O Mal entre nós já habita
Nos Dízimos e nos Dizimistas
Que pagam a fé como se fosse um fast food
Enquanto engorda o demônio de toga
Que prega o ódio na porta do templo
Vocifera ensandecido
Sobre as chamas do inferno
Faz do Demo sua escola
E profana o nome do Cristo
Jesus implora ao Pai
A misericórdia Divina
Que se exaure a cada dia
Como areia que escorre na Clepsidra
Satã é o olho de Deus que vagueia sobre a Terra



Satan Atormenta Jó - Willian Blake