sexta-feira, 11 de novembro de 2011

AK 47




I

Acarreta a folha caída
o Livro canto
Preenche com minúcias
as brancas folhas
Como prenhe
líquido amniótico
que escorre sangrento
enquanto nasce o rebento
Mamífera figura
pasta junto ao rebanho
Rumina idéias
como o vento 
brandindo a gramínea
Neocórtex Central 
avantajado
procura deuses 
sobre a relva
enquanto o pasto seca
resoluto
Multitude de seres
roubam almas
e destroem campos.

II

Logo as almas fartas
escasseiam
nos Céus de nuvens
do paraíso
Após, do Abismo, a Queda
na Terra encarnam 
demônios sedentos
que em rebanhos
nuvens densas como pragas
devoram / liquidam
as flores da Primavera

III

Meu Daímon
espelho reflexo
sorri com desdém
e sussurra empedernido
Até agora o que fizeste?
Mourejaste com os ímpios
Negaste aos companheiros 
teu ombro em meio a batalha
Teus filhos imolaste
aos deuses que pairam nesse mundo
sedentos de sangue e gentes
Como fera camuflada
predador que segue o rebanho
e devora os mais doentes
de todos és o pior pecador
pois tens o conhecimento
e negas a tua sabedoria.

IV

Incontinenti contesto a imagem
o Daímon reflexo:
Não seria esmagado
como foram tantos 
pelo leviatã a cargo dos poderosos?
Não choram ainda as carpideiras 
tantos corpos insepultos na Terra?
Os vencedores não dançam ainda 
seus festins 
sobre os cadáveres?
Minha covardia tem sido
até agora a melhor arma
chave de minha sobrevivência
Mas paga a pena o covarde vivo
ao observar o lindo mundo
virado inferno
pelo desacerto dos homens
Ato contínuo: o rebanho pasta
Como fera camuflada
permaneço ruminando
a espera da Aurora...