terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Autopoiesis
Sol pulsa no vácuo
um pulsar sonoro candente
incendeia a coroa solar
emana luz e calor
Hare Brama
Hare Krishna
harmonia Celestial
incendeia a coroa
da mente do pensador
Segue teu incrível destino
de pedra curta, ou pedra lascada
de planta unicelular
DNA, célula
de ameba pobre surda
salto de velocidade
absurda / instantânea
para o portento
da matinal divindade
que produz o dia Cósmico...
sexta-feira, 11 de novembro de 2011
AK 47
I
Acarreta a folha caída
o Livro canto
Preenche com minúcias
as brancas folhas
Como prenhe
líquido amniótico
que escorre sangrento
enquanto nasce o rebento
Mamífera figura
pasta junto ao rebanho
Rumina idéias
como o vento
brandindo a gramínea
Neocórtex Central
avantajado
procura deuses
sobre a relva
enquanto o pasto seca
resoluto
Multitude de seres
roubam almas
e destroem campos.
II
Logo as almas fartas
escasseiam
nos Céus de nuvens
do paraíso
Após, do Abismo, a Queda
na Terra encarnam
demônios sedentos
que em rebanhos
nuvens densas como pragas
devoram / liquidam
as flores da Primavera
III
Meu Daímon
espelho reflexo
sorri com desdém
e sussurra empedernido
Até agora o que fizeste?
Mourejaste com os ímpios
Negaste aos companheiros
teu ombro em meio a batalha
Teus filhos imolaste
aos deuses que pairam nesse mundo
sedentos de sangue e gentes
Como fera camuflada
predador que segue o rebanho
e devora os mais doentes
de todos és o pior pecador
pois tens o conhecimento
e negas a tua sabedoria.
IV
Incontinenti contesto a imagem
o Daímon reflexo:
Não seria esmagado
como foram tantos
pelo leviatã a cargo dos poderosos?
Não choram ainda as carpideiras
tantos corpos insepultos na Terra?
Os vencedores não dançam ainda
seus festins
sobre os cadáveres?
Minha covardia tem sido
até agora a melhor arma
chave de minha sobrevivência
Mas paga a pena o covarde vivo
ao observar o lindo mundo
virado inferno
pelo desacerto dos homens
Ato contínuo: o rebanho pasta
Como fera camuflada
permaneço ruminando
a espera da Aurora...
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Jeri
Lua de asfalto
Negra lua nova
que nunca se vê
atrás da fumaça
na cidade moderna.
Abre o pano e entra em cena
o maltrapilho mamulengo com seu cajado
O beato profeta declama então sua revolta:
Oh! Romantica lua prateada
sempre cheia
casca de cajú matinal
tirado do pé
café dos campeões
tirado do pé
café dos campeões
já arde a duna
o caliente Sol
derrete as sandálias da menina
e brilha o verde oceano
Fauna partida em pedaços
couro de jegue
muqueca de arraia
buchada de bode
buchada de bode
pimenta brava
refestelado olhando a fonte
de água translúcida
passar preguiçosa
ao meu mando.
Cavalo marinho
servido na vasilha
para alimentar
apenas aos olhos
matuto malandro
canoa furada
folha suspensa
areia, areia, areia
a se perder de vista.
Sáfari imaginário,
jacaré na guarda
mirando a montanha
a boca seca
o coco gelado
o pequeno lothar
na cabeça
na cabeça
carrega os mantimentos
Lá também pagam dólares
Lá também pagam dólares
para os broncos
cometerem cativas mesuras,
cometerem cativas mesuras,
familiar e reconfortante
reminiscencia colonial.
Babel tropical
noite indolente
lugar de encontros
e lua de mel com a amada
É onde a noite
arranha a aranha
quinta-feira, 14 de julho de 2011
Páthos
do poeta extasiado,
eremita que sobe a trilha cotidiana
e vislumbra exótica flôr que brota na montanha.
Ele ao deparar a beleza de fractais divinos,
no perfume, nas pétalas e símbolos
delicada veste colorida
vida improvável em meio ao pedregulho
que encanta o observador
emociona a alma mais dura
e enleva a mais fria mente reflexiva:
"Será milagre da natureza,
acaso ou força divina?"
"Se é assim do nada o brotar da vida
quinta-feira, 26 de maio de 2011
José Cláudio Ribeiro da Silva e Maria do Espírito Santo.
Nem era negro, nem era branco
Era mais um Silva, imensa família
Que carrega no nome a origem
De Sertão e lida cativa e navio negreiro
Familia antiga que chegou na mata
No açoite, tangidos como bichos
Para riqueza de El Rey e seus acólitos
Que sempre mamaram do leite, o sangue da pátria
No mesmo dia os deputados
Com seus ternos de linho branco, ilibados e sem nódoa
Filhos de putanas ilustres, antigas cortesãs do reino
Decretavam o fim das matas com suas canetas Mont Blanc
Nem era branca, nem era negra
Maria do Espírito Santo
Como Santa guerreira, mulher brasileira
Carregava o mundo às costas e sorria
No mesmo dia homens ilustres, poderosos
Decretavam o fim da mata a morte de seus verdadeiros donos
Carregava suas trouxas o casal pela estrada
E os deputados mamavam o sangue da pátria
Enquanto José e Maria
Carregavam suas idéias perigosas
De conservação da mata que amavam
Perigosas idéias que matam seus donos
Enquanto impolutos servos deputanos escreviam seus nomes
Nas linhas da infâmia
Carregavam os jagunços suas armas
Preparavam a tocaia na mata
Amada mata de José e Maria
Devorou a selva seus donos
Mais um silva e mais uma Maria do Espírito Santo
Tão Santo que seu corpo jaz trucidado
Torturado e morto como o Cristo
Na cruz do castanhal que tanto adoravam
Jazem seus nomes logo esquecidos
Mais um José mais uma Maria
São tantos e esquecemos tão rápido seus nomes
Entre o champanhe sorvido a farta
Deputanos, filhos de putanas ilustres
Mamam o leite da pátria, nosso sangue.
terça-feira, 22 de março de 2011
Na Terra do Sol Nascente
cinge a Terra
com teu brilho noturno
O mocho arrulha
yúúú yúúú yúúú
enquanto perscruta sua prêsa
dormente pelo frio da noite
que espreita
Caminho noturno
segue indolente como trilha
o passageiro de campos e flôres,
exiguas dôres da mata diminuta
luta selvagem pela fome
que segue para o passante
na paisagem insuspeita
Ao longe a terra treme suspiros
entre homens e peixes.
A terra treme exigindo seus sacrifícios
os alicerces de jovens e donzelas
enterrados vivos
para manter incólumes
seus palácios de pedra (Onde estarão?)
Hoje suas fábricas e usinas
de orgulho e soberba
viram escombros em minutos
ruínas para futuros estudos
de outras civilizações
que alí encontrarão
o consolo da exiguidade da vida.
O fogo, a água, o ar, a terra
exigem mais uma vez seus sacrifícios
na sua fome, eterna revolta jamais saciada
de deus bruto...
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