quinta-feira, 18 de novembro de 2021

Amores em tempos de pandemia


Quando a vida perde o sentido

a loucura extravasa a morte

o castelo de cartas voa

o raio destrói a Torre

Lobo assopra a casa de palha

do que era antes amor eterno


Era uma vez uma princesa

que tomou um porre

como quase todo o dia tomava

e deixou-se desabar na suja sarjeta

mascara rota / malcozida

caiu na vala

vociferando opróbrios

com os demônios que carregava

em seu ventre seco

Desabou como pedra

fera ferida

xingou o mundo

até mesmo seu mais intimo amante

quebrou a bengala 

da consciência e sabedoria

com seus impropérios sem sentido

e depois perdeu tudo que tinha

em apenas alguns minutos

de ira bêbada 

loucura etílica plena

perversa e sem sentido

sentimento suicida

de quem por dentro 

morre a cada instante

e despercebe a alma rota

 

domingo, 31 de outubro de 2021

O Dia da Bruxa

 


O DIA DA BRUXA

CEDO OU TARDE 

UM DIA CHEGA

COM JUROS 

CORREÇÃO MONETÁRIA

UM DIA QUEIMA 

NA GRANDE FOGUEIRA

A CIDADE INTEIRA

QUAL JENY DOS CANHÕES

APORTA A FRAGATA

A PLENAS VELAS

VAI ESTOURAR A GUERRA 

INTESTINA

HORROR QUE SE AVIZINHA

URBE ALGUMA VAI RESISTIR 

AO FUROR DESTA  CHAMA

HORDAS DE DESEMPREGADOS  

MASSAS DE DESASSISTIDOS

PELA FOME

POR FIM ESCLARECIDAS

ROMPERÃO OS GRILHÕES

COLOCARÃO SEUS PATRÕES

EM BOAS GUILHOTINAS....



quinta-feira, 21 de outubro de 2021

O ANTIATEU







Percebo num átimo

quando por segundos desperto

da hipnose coletiva

um lapso que se repete

reflexo do selvagem que

em mim ainda habita

coberto de falsos conceitos

vestido de sedas e roupas finas

olho para a eternidade

através dos tempos

e me questiono:

Por que ainda florescem

as árvores em Chernobil?

segunda-feira, 30 de agosto de 2021

Eremita




Sinto que a solidão me afaga

como bruxa solerte

que me aprisiona na pequena sala

onde agora habito

Lembro dos dias de glória

o amor das companheiras na alcova

as cândidas risadas

de meus amados filhos

seus passos trôpegos

suas correrias

pela casa assobradada

a sorte de perceber o exercitar 

de suas asas

na imaginação das brincadeiras infantis

Há anos sobrevivo aqui neste sepulcro aberto

como morto vivo

refém das lembranças

fingindo a empáfia do conhecimento

atenuando a solidão com meus livros

única paixão restante de um homem antigo

A vida é madrasta que ensina

com chibata cortante de sonhos perdidos

em alguma noite escura

quando cai a máscara definitiva

persona que se ajusta sob medida

para cada próxima cena

desta peça bufa

que denominamos existência

coisa que se arrasta

entre delírios e desilusões

filme preto e branco de sessão coruja

que se queima na exígua chama

do fogo fátuo que brilha

nas covas noturnas

por fim esclarece-se

desvela a verdadeira face

Desço mais uma vez ao vale das sombras

agora já não temo a escuridão

o final que se avizinha

vão sumindo todos os sentidos

vão morrendo os sentimentos

numa veloz volúpia

que deixa o vivente nesta tonteria/

vertigem das sensações

que por fim cessam

uma a uma

ao penetrar neste ignoto vazio

que absorve a alma

em direção ao nada

que se aprofunda infinito

no mergulho final da consciência

que desliga por fim suas funções

agradecida por não mais existir...


quarta-feira, 7 de abril de 2021

Clã do Jaguar






Sou do Clã do Jaguar

No corpo carrego as cicatrizes

de muitos combates

de muitos cativos

levados para os jogos de pela

Subo muitas vezes os degraus

do Templo Sagrado

Luto na pedra do sacrifício

Mato guerreiros tapuias de valor

em defesa do reino

Ao tombar o moribundo

do golpe mortal

irrompe do peito 

aquele pulsante coração 

pela obsidiana afiada

do Nagual em oferta ao deus maior

Texcatlipoca

que sustenta o astro Sol

e conserva o Universo

Serve os despojos do guerreiro

para saciar minha fome de fera

bebo o sangue do valente

devoro em reverencia suas carnes

Sua pele esfolada veste o sumo sacerdote

como manta sagrada

em homenagem ao valoroso guerreiro

Sigo com a alma leve de pecado

na certeza do agrado aos deuses

e da eternidade da alma...



 


 

terça-feira, 23 de março de 2021

A Desvida





Escutei o chamado da Morte

Soava como estridente grito

de uma Banshee

fera tragadora de almas

em seu sorvedouro

no pântano profundo

para os mundos ínferos

sem volta

Somos sacos vazios sujos

sem o alento do sopro divino

que nos anima

peças de barro de um tabuleiro

de um jogo sem regras

água furtada das estrelas

sombras dos deuses

projetadas em caverna escura

onde escoa luz como lamina fina

ribalda de espectros

que se acreditam vivos

para gaudio de malditos poetas

do inferno...

 



quinta-feira, 25 de fevereiro de 2021

A Conquista do Espaço

 



Direto das minas das Seis Luas
no Cinturão de Asteroides
embarcados nas longas naves
que cruzam planetas
vão cumprir o mandato divino
como um enxame
multidões famintas seguem seu destino
de semear humanidade
Por fim podem ser humanos novamente
roubar as asas de Ícaro
os carros de fogo
dos deuses da eternidade
Afirmar a vocação
o destino fatalista
de domadores de planetas
destruidores de montanhas
queimadores de florestas
escavar todos os asteroides
perfurar os canais de Marte
lutar pelos diamantes de Venus
expulsar aliens na Próxima Centauro
escravizar as bestas sem alma
Vão fazer seu melhor
assumir por fim
a condição humana
destruir os guardiões do espaço
roubar seus raios mortais
matar todos os estranhos animais
de cada recanto do Universo

e come-los...




sexta-feira, 15 de janeiro de 2021

Creação*








Forma subjetivamente conhecida

do Logos Sagrado

Uni+verso 

Termo contraditório 

de flagrante alteridade

quando a soma de todos os versos

nunca compreende a totalidade

do Uno infinito

Somos versos indivíduos

seres imperfeitos

diversidade onde rege o Livre Arbítrio

da integração à divina Fonte Perene

ou da Morte Eterna 

da pequena chama

sem pecado nem culpa

Do recitar de AUM

emerge a sonoridade 

do deus vivo manifesto

Do silencio entre cada sílaba 

habita o Imperecível

Quarto Elemento do Mantra Sagrado

Mistério dos mistérios

que mestre algum revela


Certa vez um mestre Zen 

após experimentar

seu Samadhi

queimou seus escritos

sobre o Sutra do Diamante

antes considerado um inestimável tesouro

declamou:

"Por mais profunda que seja a Filosofia"

não passa de um fio de cabelo

perdido na vastidão do Espaço"

"Por mais importante que seja 

o mundo manifesto

não passa de uma gota

num abismo insondável..."


*A substituição da tradicional palavra latina crear pelo neologismo moderno criar é aceitável em nível de cultura primária, porque favorece a alfabetização e dispensa esforço mental – mas não é aceitável em nível de cultura superior, porque deturpa o pensamento. Crear é a manifestação da Essência em forma de existência – criar é a transição de uma existência para outra existência. O Poder Infinito é o creador do Universo – um fazendeiro é criador de gado. Há entre os homens gênios creadores, embora não sejam talvez criadores. A conhecida lei de Lavoisier diz que “na natureza nada se crea e nada se aniquila, tudo se transforma”, se grafarmos “nada se crea”, esta lei está certa mas se escrevermos “nada se cria”, ela resulta totalmente falsa. Por isto, preferimos a verdade e clareza do pensamento a quaisquer convenções acadêmicas. Marcadores: autores selecionados, autores selecionados (21-40), filosofia, Humberto Rohden, Lavousier, livros, palavras, universo.

Fonte: https://pt.wiktionary.org/wiki/Discuss%C3%A3o:cria%C3%A7%C3%A3o




terça-feira, 5 de janeiro de 2021

2020 - O DIA QUE NUNCA ACABA

 




Mar sem fim

entardecer lento / permanente

longa praia se estende

por léguas

cheia de brancas dunas

ocaso

de nossos dias na Terra

Sol que se afaga entre nuvens

indeciso entre o dia perene

e a noite escura de espíritos

Os argonautas cruzam os mares

em busca da Imagem Sagrada da deusa

singram o abismo profundo

Ilha de Circe

onde o tempo inexiste

se anula

Happy hour art deco

com fimbrias fenícias

e molduras

ornando ventanas

Ocean Drive deserta

Diverte o passaredo a ausência

dos bartenders e turistas

O fim do mundo aparece nas telas

Todos os dias contamos as vitimas

imoladas ao deus capital

Como um fim de tarde

numa praia deserta

eterno retorno

na Idade das Trevas

Os povos do mar novamente se nutrem

de carne humana

Arrasaram Aleppo na Síria

Incendiaram novamente Tróia

Bombardearam Askalon na Palestina

com inteligentes bombas

plenas de argumentos

de ferro quente e fúria

em sucessivas cruzadas

de falsa fé

A peste se alastra lentamente

entre a massa ignara

que se acotovela

neste ano terminal

pleno de perplexidades e finitudes

Dormir, sonhar

despertar em tempo futuro

em outra dimensão do multiverso

mais justa e serena

Tudo é transitório

Nada permanece para sempre

alerta o Bhuda