segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Anjo da Morte



Estranha Valquíria traveste-se em miríades de formas
ao rolar das eras, calendas rubras
Serva dos dias derradeiros 
longas asas resolutas voejam sobre a Terra
discórdia 
Ares lavra os campos da morte
Segue seu voo o tenebroso cortejo
dos carros de guerra 
das hordas montadas vindas do Leste
dos conquistadores de gentes
dos cobiçosos de ouro
que cruzaram oceanos e continentes
o aço duro, a pólvora e a peste
carregavam nas naves o seu bojo
Encontrei certa feita tua forma terrena
ao descer dos vagões da morte
Impávida figura, farda negra impoluta
botas longas lustrosas sem mácula
acariciava chorosa e tremula criança
enquanto perscrutava a multidão indefesa
que seguia tangida para os banhos
exalava o acre odor das fábricas da morte
negras nuvens vomitavam as chaminés
 saciados corvos esvoaçavam na suja neve 



quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Vitor Jara





Prantea baixo o choro
dos pueblos da calle ancha
nos dormitórios obreiros de Santiago
nas minas e fábricas 
nos bares pobres da estiva
no cais de Valparaíso
segue fúnebre cortejo do medo
tua voz calada a força
tuas mãos rotas 
a golpe de armas
via escura e tortuosa
estranha sina
cumpre o plano divino
livre pelo tormento teu espírito
do inferno terrenal
torna eterno teu canto
que aos mais fracos afaga e acalenta
persistente nota
preenche a escura noite:
- Te recuerdo Amanda 
 la Calle mojada...