segunda-feira, 13 de outubro de 2014

Antropoceno




Suspense
Suspensas no ar 
as quatro folhas da última árvore
pendentes, feias, retorcidas
enquanto alvoroça-se ao redor a turba 
Câmeras em miríades focam em tempo real
de todos os ângulos 
para todo o mundo
entre os céus de mármore puro 
cercado de passarelas e viadutos
a perder de vista
Uma réstia de luz persistente
desce incólume
sobre a árvore / selva
restante e finita
Curiosos acotovelam-se
e os guardiões da ordem
impõem do aborto uma segura distância
Ao som das trombetas
anunciam o portentoso evento
que logo se inicia
segue o cortejo
o carrasco marcha 
rosto coberto 
para não ser flagrado pela multidão
e mira seu cortante instrumento
em direção ao lenho
vai com maestria reduzindo o vegetal 
derrubando seus galhos
rompendo o velho tronco
pulverizando em lascas diminutas
disputadas pela massa rumorosa
 que brada prantos e hurras
A Nova Era se inicia 
dizem as mensagens das coloridas telas
o antropoceno reina afinal
Ao fim da peça bufa
os rebanhos humanos são tangidos
de volta aos seus lares-dormitórios-fábricas
onde espera a parca ração diária
lá habitam seguros, dizem seus donos
protegidos que estão dos bárbaros
comedores de carne humana
que habitam os cumes mais elevados
acima das nuvens 
onde vivem seu eterno festim
sempre impunes...




  

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Fonte Seca



Fonte seca
Vaca inerte
Céu Azul
sem mácula
Praça vazia
um banco me espera
vazio como eu mesmo
percebo então o velho
que me encontro
sem mais cantos ou vinho
nem pandegas noturnas
vazio de tudo
e percebo por prima volta
o tempo
como ferro em brasa
constranger meu peito

Falo comigo
e tento ninar
a criança que chora
aos soluços
ela pede que o carrossel mágico
inverta sua rota no tempo
para um novo começo