sexta-feira, 18 de abril de 2014

Macondo




Sou um Buendia 

como todos somos  

uma mesma família

filhos da selva impura

das morenas e crioulas sem nome

Somos sem origem

essa é a nossa raiz e sina

destino marcado a ferro quente

na pele bruta

Somos mortos e desaparecidos

corpos insepultos 

esquecidos nas linhas 

frias do verde horizonte

nunca lembrados nas preces

de bispos e reis

somos índios, negros, mulatos

imberbes, pobres sem nome

orgulhosos de uma origem 

que não conhecemos

somos a pátria grande

que é mãe 

deusa quase branca

quase negra

somos a obra inacabada

do mestre



quarta-feira, 9 de abril de 2014

Clichê Urbano





Cheia de subterfúgios e esconderijos
a cidadela abriga verdadeira 
vida selvagem
lobos famintos em suas alcovas de luxo
crocodilos do Nilo nos esgotos sujos
como lendas urbanas
aves raras e marsupiais exóticos
prendem-se nas frondosas árvores
da alameda silente noturna
enxames de abelhas 
ordeiras e trabalhadoras 
se escondem nos troncos ocos
e cumeeiras das casas desertas
miríades de insetos esvoaçam, 
roedores e pombos
se alimentam fartos 
com os excessos
dos homens.
Cidade pária
se esconde dos olhos do cego
mendigo adormecido nos alpendres
nas noites sonsas de lua cheia
Um selvagem caçador coletor
brota inesperadamente do container de lixo
expelindo certeiras latas
em impossível trajetória
para seu velho carrinho de compras
Floresta de frio cimento
onde o choro se solta
o grito primal ao longe se escuta
e o chorume do lixo
escorre pela veia aberta
Na calçada dura
pela pedra
o menino se vende na rua

terça-feira, 1 de abril de 2014

Espelho Zen










Nada reflete
o Espelho da consciência
Vazio imensurável
é a única realidade
tangível do "Ser"
que se ilude estar cheio
de coisa alguma.
Quando penetra a percepção
do Si-mesmo
na realidade da verdadeira
existência
nada atinge e nada encontra
e assim fazendo encontra o Tudo
então a mente adormece
na própria quietude
para a sempre desperta
natureza do Bhuda...