quarta-feira, 11 de maio de 2022

A Sombra na Biqueira






Não se sabe como morreu


se foi enfrentando a policia


ou pelo chefe do comando


em fatídica sentença


por causa de alguma vendeta


sua sombra ali ainda erra


naquela viela esgoto imundo


em agonia constante


junto com outras sombras


todos encostados no muro


para eles é sempre noite


lá nunca raia o dia


de todas as sensações


a pior dor é o frio incessante


que sente na alma perdida


como amputado membro


em alguma carnificina


na sombra que não se governa


em sofrimento constante


neste frio calabouço recorda


seus dias de vida e glória


os jovens e velhos clientes


com seus olhos esgazeados


suas bocas secas


de quem ele tirava tudo


até mesmo suas essências


as várias meninas curradas


em troca de alguns baratos


ainda escuta seus lancinantes gritos


que ecoam lá do Paraíso


como vingativas Eríneas


para aumentar mais ainda 


seu maldito tormento


em castigo dantesco 


e cada segundo que passa


conta como dez anos em vida


nesta eterna sentença


nem pode mais usar nada


mas quando tem um maluco


usando algo a cerca


sente aquela loucura


que só se pode dar pena


tenta alertar os outros


seus irmãos encarnados


de seu não futuro


berrar do tumulo sua culpa


mas ninguém o escuta


nem pastor algum salva


recitando alguma reza


ou advogado liberta


com infalível proclama


até o final dos tempos


no julgamento das almas...