Não se sabe como morreu
se foi enfrentando a policia
ou pelo chefe do comando
em fatídica sentença
por causa de alguma vendeta
sua sombra ali ainda erra
naquela viela esgoto imundo
em agonia constante
junto com outras sombras
todos encostados no muro
para eles é sempre noite
lá nunca raia o dia
de todas as sensações
a pior dor é o frio incessante
que sente na alma perdida
como amputado membro
em alguma carnificina
na sombra que não se governa
em sofrimento constante
neste frio calabouço recorda
seus dias de vida e glória
os jovens e velhos clientes
com seus olhos esgazeados
suas bocas secas
de quem ele tirava tudo
até mesmo suas essências
as várias meninas curradas
em troca de alguns baratos
ainda escuta seus lancinantes gritos
que ecoam lá do Paraíso
como vingativas Eríneas
para aumentar mais ainda
seu maldito tormento
em castigo dantesco
e cada segundo que passa
conta como dez anos em vida
nesta eterna sentença
nem pode mais usar nada
mas quando tem um maluco
usando algo a cerca
sente aquela loucura
que só se pode dar pena
tenta alertar os outros
seus irmãos encarnados
de seu não futuro
berrar do tumulo sua culpa
mas ninguém o escuta
nem pastor algum salva
recitando alguma reza
ou advogado liberta
com infalível proclama
até o final dos tempos
no julgamento das almas...