Acordei taciturno
como têm sempre se passado
esses últimos dias
penetrado na alma
de sombras e maus agouros
é quando a rima perde seu sentido
e o léxico não encontra palavras
de suficiente revolta
para encarar o
admirável novo mundo
imposto pelos notáveis
tiranos impolutos
suas corporações nefastas
com seus soldados escravos
máscaras de gás
sufocado
bombas de efeito
sem moral
tiros de balas de borracha
que matam
e torturas em profusão
nada podem suas armas
contra meu corpo
fechado
copo rachado, cana vazia
saco sujo
vaso que se esvai
a cada dia
o líquido vital
nem poderia ser diferente
este é o mortal destino
de todos os homens
nascer livre do jugo
derrotar a tirania a qualquer preço
não existe melhor razão
para viver e morrer
que lutando
no equilíbrio da corda bamba
do alto das cumeeiras
nunca será certa a vitória neste mundo
tudo se transforma
a cada momento
e a liberdade
mesmo que ilusória utopia
é o farol que ilumina
a alma do guerreiro
Está na hora de afiar novamente o alfange
preparar a carga de pólvora
lustrar as velhas botas
é tempo de terra arrasada
ou então resignar-se às senzalas
pois na verdade
tudo nesta vida
nada mais é que sensorial ilusão
Meu mestre Zen desfia as contas
e canta um definitivo mantra de oração
mesmo o santo agora olha com carinho
o bastão de suas peregrinações
por estradas perigosas
onde jaz o fio da lâmina
que corta
Que poema! Parece que assisti a um filme!! Belíssimo!!
ResponderExcluirObrigado Fico honrado pela apreciação A ideia é essa mesmo.
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