Suspensas no ar
as quatro folhas da última árvore
pendentes, feias, retorcidas
enquanto alvoroça-se ao redor a turba
Câmeras em miríades focam em tempo real
de todos os ângulos
de todos os ângulos
para todo o mundo
entre os céus de mármore puro
cercado de passarelas e viadutos
a perder de vista
Uma réstia de luz persistente
desce incólume
sobre a árvore / selva
restante e finita
Curiosos acotovelam-se
e os guardiões da ordem
impõem do aborto uma segura distância
Ao som das trombetas
Ao som das trombetas
anunciam o portentoso evento
que logo se inicia
segue o cortejo
segue o cortejo
o carrasco marcha
rosto coberto
para não ser flagrado pela multidão
e mira seu cortante instrumento
em direção ao lenho
e mira seu cortante instrumento
em direção ao lenho
vai com maestria reduzindo o vegetal
derrubando seus galhos
rompendo o velho tronco
pulverizando em lascas diminutas
disputadas pela massa rumorosa
que brada prantos e hurras
A Nova Era se inicia
dizem as mensagens das coloridas telas
o antropoceno reina afinal
Ao fim da peça bufa
os rebanhos humanos são tangidos
de volta aos seus lares-dormitórios-fábricas
onde espera a parca ração diária
lá habitam seguros, dizem seus donos
protegidos que estão dos bárbaros
comedores de carne humana
que habitam os cumes mais elevados
acima das nuvens
onde vivem seu eterno festim
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