terça-feira, 4 de julho de 2017

Bala Perdida




Sou a bala perdida
no corpo da criança
que ainda está para nascer
Sou a Mãe África
que estende sua colcha
ao longo do passeio
cheia de produtos
Made in China
Habito corações/continentes
hemisférios e orientes
expulso meus filhos
em profusão
das minhas 
grávidas entranhas 
fossas abissais 
em direção ao centro
do vórtice luminoso
turbilhão flutuante
dos mares ignotos
em busca da riqueza
dos sonhos infecundos
e da paz dos afogados
sem nome
Sou daqueles jovens negros
ou quase pretos
corpos insepultos
que habitam todas as periferias
Sou aquela que prantea
o menino sem rosto 
jogado no asfalto
servido ao holocausto
das feras fardadas
Sou quem resiste
como pode
todo o dia
aos grilhões
de mãos vazias
cometendo o maior
de todos os crimes
contra a humanidade
dos tiranos sem mácula
que é sobreviver


Nenhum comentário:

Postar um comentário