terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Epístola Sacra





Flor tensa envolve a Vulva Sagrada
de Samarcanda
No festival do Solstício
os sacerdotes carregam em procissão
pelas vielas 
a Vagina de Pedra
enquanto a choldra embevecida
admira a Imagem Encarnada
que sangra
Imaginam os fiéis 
que só assim
podem semear seus campos

Desmedida noite
geme meu corpo na cela
flagelo meus membros
com escaravelhos dourados
torturo minha própria carne
em ato de contrição
dor lancinante acomete
quando a chibata rasga 
a carne nua
Meus berros são preces
purificadoras
Na estreita ventana
penetra foice pálida
a Lua Nova

No reino dos crentes
as forças das sombras
perpetuam o esforço
de desvida
Como colunas 
suportam os fiéis 
a nave central do templo
da fé obstinada
Posto o rebanho
o bispo amola
as adagas do matadouro
e seus acólitos 
cercam as presas
enquanto dos tolos
jorram as dádivas
As crenças humanas são correntes
que aprisionam seus donos
para nunca mais... 

Na negação da Epifania
o pregador de Nietzsche
em seu "Zaratrusta"
prega a precariedade da matéria
como única forma Absoluta
Mas entende o Sábio 
que o Ser e o Não-Ser
que o Crer e o Não-Crer
são uma só e mesma coisa
para o crente e o ateu
a mesma radicalidade
que flui em águas sangrentas
fossas fundas de corpos sem nome
ao relento
despojados da própria
humanidade





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