domingo, 17 de fevereiro de 2013

SAMSARA





I

Arjuna e Krishna observam do alto da colina
Do carro de guerra o rei Pandava inquieto
avista a terrível cena que abaixo descortina
No amplo vale os dois exércitos se enfrentam
Dois blocos de nobres infantes manobram
elefantes de guerra, carros e cavalaria ligeira
cintilam as couraças dos guerreiros na aurora, 
ouvem-se os gritos de ordens da batalha 
Boca seca, mãos tremulas, frouxas pernas
o soberano guerreiro já pensa desistir e vacila 
antevendo o nefasto fim, a final carnificina
Nas falanges opostas habita sangue da mesma cepa
muitas viúvas prantearão a morte de tantos heróis
recolherão seus familiares corpos nos campos sem vida
resultado horrendo e certo da batalha fratricida.
Nota o  deus auriga a hesitação do chefe das hostes luminosas
sentimento que põe a perder  a guerra
o fim da vitória dos justos sobre os poderosos
mudar para sempre a face do destino dos futuros faustos dias
quando os deuses já não estiverem mais entre os homens
e a vida do planeta por um fio exista.
Sua verdadeira imago o pastor dos deuses por fim revela:
- Percebe Arjuna como tudo é ilusório !
Das hostes a finitude prospera e já faz sua amarga colheita 
Olha para mim soberano dos Pandavas
Eu sou Kala a morte que tudo transforma
Sou eu que levo as almas como seiva bruta
para as fornalhas dos infernos, eterna forja
Sou eu que transmigro as almas no seu Karma eterno
ao Destino somente subalterno  
que cinge o sinal  na fronte do destemido guerreiro  
e determina se sobrevirá ao valente ou não um novo dia 
ou será aniquilado nessa terra, para viver em outra futura harmonia
Hare Samsara que do Universo tudo condena
e até Vishnu comanda
Lei eterna do dia de Brahman
Sou foice sagrada que sega a colheita.



II

Grandiosa imagem de Vishnu se expande
tridente, báculo e coroa iridescente
mostra sua verdadeira aparência Krishna
para o pobre soberano temeroso e vacilante 
o pastor da cor do céu de sua boca exala 
os astros luminosos da infinita Criação
o Espaço sem fim que incha suas formas 
De sua voz que trona como magnifico trovão
Nesse redemoinho formidável espectros são sorvidos 
exércitos dos homens são destruídos
como formigas são esmagadas em um formigueiro
Hoje, agora e para todo o sempre 
numa interminável curva de sangue e morte
que se escoa eternamente pelo fulcro interminável 
da Roda Chamejante do Destino
Ilumina então o semblante do rei guerreiro
da aparição tenebrosa que testemunha
a compreensão vem como uma centelha
o esclarecimento como chave eterna
abre a porta do shatria soberano



III

Cada um cumpre seu papel nessa vida
Jogo de dados que só Brahman conhece as regras
eterna luta que do espaço avista
do coração o homem deve ser escravo 
da mente a ilusão de maya esconde
uma falsa eternidade ao homem
que pretende o corpo proteger 
e torna a existência como verme que se enrosca
em galho de velha árvore apodrecida 
derrubada em tênue ventania
ou levado por correnteza sobre fina folha
que se afoga logo ao fim da vida
Assim na Terra tudo nada muda 
e fenece o que mais importa
a eterna alma, falso Karma 
minúsculo fogo que se extingue
na imensa forja de Brahman.


Nenhum comentário:

Postar um comentário